EnglishPortugueseSpanish

15 anos do Museu de História Natural de Mato Grosso

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no email
Compartilhar no whatsapp

Neste mês de dezembro, o Museu de História Natural de Mato Grosso completou 15 anos, mas sua história começa lá atrás, em 1842, quando a família Murtinho constrói a sede da chácara Bela Vista, casa que hoje abriga o Museu. Em 1848, nasceu Joaquim Murtinho, que durante o final do século XIX e início do século XX, exerceu o cargo de Senador por três mandatos, foi Ministro da Fazenda, empresário e precursor da Homeopatia no Brasil. Anos depois do nascimento de Murtinho, a chácara é vendida para a família Aquino Correia e nasce, em 1885, Francisco de Aquino Correia, mais tarde conhecido como Dom Aquino. Dom Aquino foi arcebispo de Cuiabá, governante de Mato Grosso, poeta, escritor e o primeiro mato-grossense a pertencer à Academia Brasileira de Letras. Muitas de suas poesias são marcadas pela fase da sua infância em que ele vivia na casa, por isso a casa foi nomeada em sua homenagem. Pelo fato de ter sido o local de nascimento destas duas ilustres personalidades de Mato Grosso, a Casa Dom Aquino é conhecida por alguns historiadores como a “Casa Predestinada”.

 A família Aquino Correia se muda para o centro de Cuiabá quando ele tinha apenas 10 anos e desde esse período até 1950, não se tem registros de como e por quem a casa foi utilizada. Na década de 1950 a casa se tornou uma grande fábrica de sabão. Em 1970 ela vira sede do Clube da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) e já na década de 1980, 12 famílias sem teto ocuparam os 12 cômodos do casarão histórico que estava em situação de abandono.

Em 1998 o Instituto Ecossistemas e Populações Tradicionais (Ecoss) assume o espaço da casa Dom Aquino para salvaguarda de materiais arqueológicos e paleontológicos vindos de pesquisas realizadas em diversas regiões do estado. A maioria do acervo que está em exposição no Museu são de pesquisas realizadas pelo Instituto.

Segundo Suzana Hirooka, fundadora e presidente do Instituto Ecoss, a preocupação do Instituto sempre foi de realizar a salvaguarda de materiais arqueológicos e paleontológicos, já que Mato Grosso não possuía locais adequados para guardar os artefatos que contam a história e a pré-história do estado e de quem já viveu aqui. “Antes da criação do Instituto, a maioria dos artefatos saía de Mato Grosso ou até mesmo do Brasil com a desculpa de que não existia um lugar apropriado para fazer essa salvaguarda. Foi nesse momento que o Governo de Mato Grosso, através da Secretaria de Cultura, cedeu a Casa Dom Aquino para que o Instituto realizasse a salvaguarda de todo esse material”, explica Hirooka.

No início dos anos 2000, o Instituto realizou escavações arqueológicas nos fundos da Casa Dom Aquino, pelo projeto Sítio Escola, com alunos do UNIVAG, em que foram encontrados materiais riquíssimos como louças, porcelanas, faianças finas, vidros, ossos de animais, moedas, cobre, cachimbos, etc, que ajudaram a contar um pouco mais sobre a história do casarão histórico. Hoje, a Casa Dom Aquino é a única edificação do século XIX de Cuiabá que guarda características em estilo colonial com traçado arquitetônico em formato de “U” e fachada voltada para o rio Cuiabá.

Também nos anos 2000, o Instituto Ecoss realizou o projeto Dinossauros, apoiado pela FAPEMAT, onde foram encontrados fósseis de dinossauros na região da Jangada Roncador, em Chapada dos Guimarães (60 km de Cuiabá), além de projetos para localizar engenhos de cana-de-açúcar dos séculos XVIII e XIX.

Hirooka reforça que o trabalho do Instituto Ecoss, que se perpetua por anos, é de grande importância para a salvaguarda dos materiais de forma segura, através da Reserva Técnica inaugurada em 2019, contribuindo para o conhecimento e para a ciência não só agora, mas como também para o futuro. É uma forma para que as futuras gerações tenham a oportunidade de também estudar esse material, além disso, com o tempo e o desenvolvimento de novos equipamentos e tecnologias, podem surgir novas teorias e entendimentos desses artefatos e fósseis. “Uma nova pessoa, em outro momento histórico, pode fazer uma leitura diferente e trazer novos conhecimentos”, afirma.

Em 7 de dezembro de 2006 o Museu de Pré-história Casa Dom Aquino é inaugurado com uma exposição permanente de arqueologia, paleontologia e etnologia. A data foi escolhida em homenagem a Joaquim Murtinho, personalidade que nasceu na casa e no mesmo dia, em 1848. Do ano de inauguração até agora, o Museu foi passando por diversas melhorias e aumentando sua rica coleção através de novas pesquisas e projetos. Em 2016 o Museu teve seu nome alterado para Museu de História Natural de Mato Grosso, nome este que contempla a riqueza e diversidade do acervo e do trabalho desenvolvido pela instituição. Hoje, é gerido de forma compartilhada entre o Instituto Ecoss e o Governo do Estado.

Dentre os destaques nesses 15 anos estão a inauguração da réplica em tamanho real do dinossauro Pycnonemosaurus nevesi, a inauguração da Loja de Artesanatos Murtinho’s, o Café Nhô Dino, o parquinho infantil e a Reserva Técnica, um espaço de salvaguarda de materiais arqueológicos, etnológicos e paleontológicos que garante a conservação e o acesso da população aos artefatos tradicionais locais, que podem ser utilizados em atividades educacionais, científicas, culturais e de lazer. A reserva é reconhecida pelo Instituto Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN).

Na exposição paleontológica são apresentados fósseis de animais da região, organizados cronologicamente, representando a evolução biológica durante as eras geológicas. Dentre os fósseis, estão o do tatu gigante (Pampatherium humboldti) e preguiça-gigante (Eremotherium Iaurillardi), dinossauros (saurópoda), e animais marinhos do período que Chapada dos Guimarães foi mar. Já a exposição arqueológica conta a história da humanidade através de artefatos produzidos pelo homem desde a Pré-história até os dias atuais. Fazem parte da exposição instrumentos do homem caçador-coletor e do homem ceramista, como: pontas de lança de pedra lascada, machadinhos de pedra polida e fragmentos de cerâmica. Há também louças, cerâmicas neo-brasileira, moedas e outros objetos encontrados nos casarões de engenho de Mato Grosso. O Museu também tem em sua exposição permanente Máscaras Indígenas Waurá, confeccionadas durante a festa Atujuwá, um importante ritual indígena dos povos Waurá, localizado no Parque Indígena do Xingu.

Atualmente, o Museu recebe a exposição temporária “O Pantanal através dos esqueletos”, que exibe parte do acervo do projeto Bicho Por Dentro, projeto de extensão da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A exposição propõe que os visitantes conheçam de perto o sistema esquelético de alguns dos animais que habitam a maior planície alagada do mundo e a relação de cada um deles com esse bioma tão importante e único.

Em breve, o museu terá em sua exposição permanente a réplica de um dinossauro saurópode, conhecido como titanossauro, medindo pouco mais de 19 metros lineares, 1,80 de largura e mais de 3 metros de altura, que já está em construção e será a segunda maior réplica do Brasil.

Serviço

O Museu de História Natural de Mato Grosso é um dos equipamentos culturais da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel), em funcionamento sob gestão compartilhada com o Instituto Ecoss. Ele está localizado na Avenida Beira Rio, nº 2000, bairro Dom Aquino, Cuiabá (MT). Funcionamento de quarta a domingo, das 8h às 18h. Entrada: R$ 12,00 (inteira) e R$ 6,00 (meia).

Texto: Radharani Kuhn