Kamariwé Waurá, de 31 anos, nasceu na Aldeia Piyulaga, do povo Waurá, no Xingu, e sempre teve interesse pela história de seus ancestrais. Essa curiosidade começou desde muito cedo, ainda criança aprendeu com seus pais e avós sobre a origem de seu povo, e tinha interesse em descobrir ainda mais sobre suas raízes, mas não sabia como obter esse conhecimento. Em 2014, Kamariwé conheceu a geóloga e arqueóloga, Suzana Hirooka, durante uma pesquisa de campo realizada na gruta Kamukawaka, no Parque Indígena do Xingu. O local possui muitas marcas do passado do povo Waurá e foi onde Kamariwé, que ainda cursava o ensino médio, viu a possibilidade de se aprofundar na historicidade de seu povo, através da Arqueologia. Desde então, o indígena passou a acompanhar Hirooka nas escavações arqueológicas, e desenvolveu o desejo de seguir seus estudos nesse campo.
“Eu me apaixonei pela história, pelo surgimento e pelo local do sítio histórico dos povos Waurá e assim comecei a me encantar pela arqueologia e ajudar a preservar esses locais. Além disso, queria poder estudar mais a língua portuguesa e obter outros conhecimentos fora da aldeia”, comenta Kamariwé.
Quando terminou o ensino médio, em 2017, Kamariwé fez o vestibular para ingressar no curso de Arqueologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC Goiás, por ser o mais próximo do Parque Indígena do Xingu. Nos anos de 2018 e 2019, o indígena contou com o suporte financeiro da empresa “Archaeo – Pesquisas Arqueológicas” e do Instituto Ecossistemas e Populações Tradicionais (Ecoss) para custear seus estudos. Porém, era necessário encontrar outros apoiadores, pois, além do curso, haviam todas as despesas para o indígena viver em Goiânia.
Devido à pandemia, após dois anos de curso, Kamariwé teve que trancar a universidade. Porém, continuou a realizar trabalhos de campo em sítios arqueológicos do Piauí, acompanhando Hirooka. No início de 2022, o Instituto Ecoss, conseguiu com um dos seus parceiros, a empresa SPE Santa Lucia Transmissora de Energia S/A, uma bolsa de estudos integral para o Kamariwé retornar aos estudos na cidade de Goiânia, onde cursa hoje o quinto semestre, com previsão de conclusão em 2023.
Para Hirooka, conseguir a bolsa foi de suma importância: “Estávamos comprometidos em dar suporte ao Kamariwé na sua formação, porém, depois de um ano e meio, o Instituto Ecoss e a Archaeo Pesquisas Arqueológicas já não tinham mais recursos para mantê-lo estudando em Goiânia. Essa bolsa veio para completar um grande projeto – o de formarmos o primeiro arqueólogo indígena do Xingu”.
Segundo Hirooka, a formação de um arqueólogo indígena fortalecerá a comunidade, conduzindo-a à descoberta de sua história arqueológica, à identificação de seus próprios territórios e, assim, perpetuando suas tradições.
Kamariwé demonstra gratidão pelo apoio e conta como isso irá mudar sua vida e a de seu povo: “Eu acredito que não vou mudar o mundo, mas o mundo dos meus filhos e da minha família eu tenho certeza que vou mudar. Vou fazer o meu Trabalho de Conclusão de Curso em cima da cultura Waurá. Será um estudo relevante não só para o meu povo, mas também para pesquisadores e estudantes brasileiros e estrangeiros. O meu objetivo é fazer com que o mundo conheça o meu povo, o povo Waurá, e deixar esse conhecimento para as futuras gerações”, finaliza.
Texto: Radharani Kuhn – Comunicação Museu de História Natural de Mato Grosso