“A luta continua e a disputa sempre vem”, destacou o indígena Paulo Domingos, do povo Xavante, no 10º Encontro Indígena
O segundo dia do evento realizado pelo Museu de História Nacional de Mato Grosso acontece durante o Dia dos Povos Indígenas, nesta quarta (19); a programação segue até sexta (21).
Por: Iasmim Sousa – Programa Jovens Jornalistas
Hoje (19) é celebrado o Dia dos Povos Indígenas. O 10º Encontro Indígena começou na manhã deste dia simbólico com roda de conversa para trocas socioculturais, na qual o pesquisador e líder indígena Nárru Yamalui, do povo Kuikuro da Terra Indígena (TI) do Xingu, ressaltou as diferenças culturais entre os povos indígenas e a importância da mudança do termo “Dia do Índio” para Dias dos Povos Originários através da Lei 14.402/2022, de autoria da primeira deputada indígena, Joênia Wapichana.
“A gente não se identifica como índio, nós nos identificamos como nossa nação. Eu sou Kuikuro, não sou índio. Ele é Xavante, não é índio. Cada povo tem um nome, Xavante, Kuikuro, Bororo, Umutina que se identifica como etnia mesmo”, afirmou Yamalui.
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Nárru Yamalui, do Povo Kuikuro, que participa pela quinta vez do Encontro Indígena, destacou a importância deste evento no Museu, que possibilita que várias etnias possam conversar entre si e ao mesmo tempo crianças e jovens não indígenas. Foto: Luiz Leite/Acervo MHNMT,
E completa: “Aqui você não está ouvindo antropólogo, historiador ou professor, mas quem está aqui dando essa palestra para vocês é o próprio povo indígena”, apontou.
O cacique da aldeia Tso’repré de Sangradouro, Paulo Domingos, do Povo Xavante, explicou que a palavra “índio” significa “gente sem deus” e “gente incapaz”, na gramática espanhola, o que não condiz com a realidade, por isso, o termo correto é povos originários ou povos indígenas. Paulo ainda ressaltou a importância do Dia dos Povos Originários.
“Nesta data a gente relembra que o Brasil era nosso, totalmente dos povos originários. Mas fomos empurrados, fomos mortos pelas doenças, epidemias, como sarampo, coqueluche e matança pelas armas. Hoje, a luta continua e sabemos que a disputa sempre vem”, destacou Paulo Domingos.
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Paulo Domingos, do Povo Xavante, durante o 10º Encontro Indígena explicou que o termo índio reduz e limita a diversidade dos povos originários. Foto: Luiz Leite/Acervo MHNMT.
Odisléia Cassiano da Silva, coordenadora da Escola Municipal Dom Bosco do Praierinho, trouxe 32 alunos do terceiro e quarto ano do ensino fundamental e já esteve várias vezes nos encontros promovidos pelo Museu. Para ela, o evento foi maravilhoso, principalmente para as crianças que nunca tiveram esse contato com outras culturas.
A coordenadora do Museu e Presidente do Instituto Ecoss, Enir Maria Silva, ressaltou que as pessoas indígenas sofrem muito preconceito e que o principal objetivo do Encontro Indígena é despertar nos estudantes que participam o sentimento de valorização das culturas indígenas.
“Essa programação é organizada desde 2008 quando apenas três etnias estavam presentes; e o público, em cada período, chegava a 50 pessoas. Com o tempo a ideia do encontro foi se fortificando e ganhando mais parceiros. Agora em 2023, na 10º edição, contamos com quase 60 indígenas representando oito etnias diferentes. Além disso, estamos recebendo um número expressivo de escolas e público espontâneo”, contou Enir.
Ela destacou ainda que a parceria com escolas públicas e particulares contribuiu para o salto de público, que, ontem (19), chegou ao total de 600 pessoas no primeiro dia de evento.
Isaac Amajunepá é representante do povo Umutina Balatiponé e participou pela primeira vez no Encontro Indígena junto com um grupo de estudantes da aldeia. Ele afirmou que essa ação fortalece o que os indígenas buscam através das lutas, o ser, fazer e viver dos povos originários.
“Eu acredito que um evento como esse é referência para os outros eventos dentro do Estado de Mato Grosso e do Brasil. Essa nossa vinda aqui fortalece nosso contato e nossa rede de conhecimento. Isso é muito importante, sobretudo para os alunos da escola da aldeia central, que vieram participar deste encontro. Isso fortalece as tradições que eles aprendem na escola, como a dança, a cultura e os saberes dos nossos ancestrais”, revelou Isaac.
Programação
A programação desta quarta-feira segue a partir das 14h com rodas de conversas e trocas socioculturais e às 15h acontecem vivências culturais com danças, pinturas corporais, contação de histórias e contato com arco e flecha. Logo depois, às 16h, acontece duas oficinas, uma sobre grafismos e cores, ministrada pela artista Kaya Agari, do povo Bakairi e outra oficina de pintura facial Boe Bororo ministrada pela Lidiane Kuruguwe Emugu. A programação completa e inscrições pelo site: https://www.sympla.com.br/evento/10-encontro-indigena/1950613
SERVIÇO:
10º Encontro Indígena é realizado pelo Instituto Ecoss, Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer, com apoio do Museu de Etnologia e Arqueologia da UFMT e Univag.
O evento é gratuito e acontece de 18/04 a 21/04, no Museu de História Natural de Mato Grosso, localizado na Avenida Manoel José de Arruda (Beira Rio), nº 2000, bairro Jardim Europa, Cuiabá/MT. A programação completa está disponível em: https://www.sympla.com.br/evento/10-encontro-indigena/1950613
Contato: (65) 9 9686-7701 e Instagram: @museuhistorianaturalmt
O Museu de História Natural de Mato Grosso, gerido desde 2006 pelo Instituto Ecossistemas e Populações Tradicionais (Instituto Ecoss), é um dos equipamentos culturais da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel).