EnglishPortugueseSpanish

Indígena mato-grossense ganha bolsa de estudos e se torna o primeiro do Xingu a estudar Arqueologia

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no email
Compartilhar no whatsapp

Kamariwé Waurá, de 31 anos, nasceu na Aldeia Piyulaga, do povo Waurá, no Xingu, e sempre teve interesse pela história de seus ancestrais. Essa curiosidade começou desde muito cedo, ainda criança aprendeu com seus pais e avós sobre a origem de seu povo, e tinha interesse em descobrir ainda mais sobre suas raízes, mas não sabia como obter esse conhecimento. Em 2014, Kamariwé conheceu a geóloga e arqueóloga, Suzana Hirooka, durante uma pesquisa de campo realizada na gruta Kamukawaka, no Parque Indígena do Xingu. O local possui muitas marcas do passado do povo Waurá e foi onde Kamariwé, que ainda cursava o ensino médio, viu a possibilidade de se aprofundar na historicidade de seu povo, através da Arqueologia. Desde então, o indígena passou a acompanhar Hirooka nas escavações arqueológicas, e desenvolveu o desejo de seguir seus estudos nesse campo.

Arquivo pessoal: Kamariwé Waurá e pesquisadores em campo

“Eu me apaixonei pela história, pelo surgimento e pelo local do sítio histórico dos povos Waurá e assim comecei a me encantar pela arqueologia e ajudar a preservar esses locais. Além disso, queria poder estudar mais a língua portuguesa e obter outros conhecimentos fora da aldeia”, comenta Kamariwé.

Quando terminou o ensino médio, em 2017, Kamariwé fez o vestibular para ingressar no curso de Arqueologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC Goiás, por ser o mais próximo do Parque Indígena do Xingu. Nos anos de 2018 e 2019, o indígena contou com o suporte financeiro da empresa “Archaeo – Pesquisas Arqueológicas” e do Instituto Ecossistemas e Populações Tradicionais (Ecoss) para custear seus estudos. Porém, era necessário encontrar outros apoiadores, pois, além do curso, haviam todas as despesas para o indígena viver em Goiânia.

Devido à pandemia, após dois anos de curso, Kamariwé teve que trancar a universidade. Porém, continuou a realizar trabalhos de campo em sítios arqueológicos do Piauí, acompanhando Hirooka. No início de 2022, o Instituto Ecoss, conseguiu com um dos seus parceiros, a empresa SPE Santa Lucia Transmissora de Energia S/A, uma bolsa de estudos integral para o Kamariwé retornar aos estudos na cidade de Goiânia, onde cursa hoje o quinto semestre, com previsão de conclusão em 2023. 

Arquivo pessoal: Kamariwé Waurá na PUC Goiás

Para Hirooka, conseguir a bolsa foi de suma importância: “Estávamos comprometidos em dar suporte ao Kamariwé na sua formação, porém, depois de um ano e meio, o Instituto Ecoss e a Archaeo Pesquisas Arqueológicas já não tinham mais recursos para mantê-lo estudando em Goiânia. Essa bolsa veio para completar um grande projeto – o de formarmos o primeiro arqueólogo indígena do Xingu”.

Segundo Hirooka, a formação de um arqueólogo indígena fortalecerá a comunidade, conduzindo-a à descoberta de sua história arqueológica, à identificação de seus próprios territórios e, assim, perpetuando suas tradições.

Arquivo pessoal: Suzana Hirooka, Kamariwé Waurá e seu pai Tacapé Waurá

Kamariwé demonstra gratidão pelo apoio e conta como isso irá mudar sua vida e a de seu povo: “Eu acredito que não vou mudar o mundo, mas o mundo dos meus filhos e da minha família eu tenho certeza que vou mudar. Vou fazer o meu Trabalho de Conclusão de Curso em cima da cultura Waurá. Será um estudo relevante não só para o meu povo, mas também para pesquisadores e estudantes brasileiros e estrangeiros. O meu objetivo é fazer com que o mundo conheça o meu povo, o povo Waurá, e deixar esse conhecimento para as futuras gerações”, finaliza.

Texto: Radharani Kuhn – Comunicação Museu de História Natural de Mato Grosso