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Museu de história natural de Mato Grosso encerra 10º Encontro Indígena com Feira de Artesanatos

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Museu de história natural de Mato Grosso encerra 10º Encontro Indígena com Feira de Artesanatos

O evento ocorreu durante esta sexta-feira, 21 de abril; seis povos mato-grossenses exibiram suas artes no Museu, em Cuiabá

Por Anna Giullia Nunes Magro

Os visitantes da Feira de artesanatos indígenas puderam conhecer a riqueza e a diversidade das peças confeccionadas pelos povos Umutina, Kuikuro, Bororo, Karajá, Kurâ-Bakairi e Xavante Foto: Anna Giullia Nunes Magro

Entre palha, miçangas e penas de arara, a criatividade reflete a tradição e a cultura de cada povo. A montagem das mesas teve início por volta das 9h, pouco depois já se podia vislumbrar o colorido de colares, brincos, cestas, pulseiras, bolsas, cocares, bonecas, arcos e flechas e muito mais. Por volta das 10h começaram a oferecer pinturas corporais aos participantes, crianças e adultos se divertiam tendo os braços estampados pelos grafismos dos povos Kuikuro e Karajá.

Yebi é indigena da etnia Karajá e desenhava o grafismo na pele de uma menina enquanto explicava “usamos a pintura no dia a dia”. As mulheres de seu povo que estavam vendendo os artesanatos tinham os rostos, braços e pernas desenhados com a mesma tinta feita com jenipapo. Karoline Mydiwari Karin, do povo Karajá, uma dessas mulheres, me contou como o convite para a Feira é importante para eles. “Assim as pessoas não indígenas podem conhecer mais sobre a nossa cultura”, aponta.

A maioria dos colares, enfeites de cabelo, brincos e adornos são confeccionados pelas mulheres da aldeia, os materiais usados são palha de Buriti, penas de arara e miçangas. O povo Karajá que ofereceu uma oficina de bonecas Ritxokô/Ritxoo no primeiro dia do evento, hoje venderam algumas dessas bonecas coloridas com tintas de urucum e jenipapo. Rafael Hararika Koxiwari, também Karajá, se sentava mais no canto perto dos cocares, saias e pulseiras, conta que os itens próximos a ele se referiam a um ritual de passagem de rapazes para homens; nesse caso, os meninos confeccionavam as peças que usariam na cerimônia.

Artesanato indígena expostos em Feira, durante o 10º Encontro Indígena, no Museu de História Natural de Mato Grosso. Foto: Anna Giullia Nunes Magro/Acervo MHNMT

Segundo Enir Maria Silva, coordenadora do Museu e presidente do Instituto Ecoss, o objetivo da Feira foi valorizar a cultura e a arte dos povos originários, além de gerar renda para as comunidades. “Quem visitou o Museu teve a oportunidade de aprender sobre as histórias e as técnicas dos artesãos indígenas; Isso é muito importante para que a memória e a identidade desses povos não se percam”, afirma.

O povo Kuikuro precisou de cinco ou seis mesas para distribuir seus produtos, era uma das maiores exposições, grande parte das pulseiras e colares eram feitas com miçangas e palha. O colorido vinha do urucum, jenipapo e argila, a palha das bolsas e sextas eram feitas de Buriti. Palako, que auxiliava nas vendas, conta mais sobre as “estampas” das peças e seu significado, ele escolhe dois colares para explicar, um era grafismo de jabuti, já o segundo era referente ao Kuarup, um evento que acontece quando o Cacique do povo morre, ele é velado por todos da aldeia que pintam seus corpos com esse padrão Kuarup. Palako ressalta a importância de fazer peças com os grafismos da cultura Kuikuro, arte ensinada as crianças a partir dos nove anos de idade. “É muito importante fazer artesanato para registrar como era o grafismo antigamente. Hoje, estamos esquecendo essa cultura”, conta. O artesanato é parte da tradição, ele diz que quando as meninas Kuikuro tem sua primeira menstruação ficam um ano em reclusão aprendendo sobre os costumes e sobre o artesanato.

Há uma diversidade de materiais usados para confecção dos artesanatos indígenas, têm os que preferem trabalhar com missangas, os que usam a palha do Buriti, como principal material e outros como os Boe Bororo que gostam de usar penas de aves. Com duas mesas de exposição na Feira, os Bororos distribuíram colares e brincos feitos de penas de arara. Segundo Lidiane Kuruguwe Emugu, que vendia os produtos feitos pelas artesãs da aldeia, em sua cultura os homens preferem se ocupar com a confecção de materiais de guerra, canoas e outros instrumentos mais pesados; enquanto as mulheres se dedicam ao artesanato. Perguntada sobre a comercialização das peças, ela destaca a dificuldade que o povo tem em trazer os produtos para venda nas cidades, principalmente, por conta da distância da aldeia. 

José Mário Kugarubo também é Bororo e explica que o lucro das vendas é para ajudar alguns projetos dentro da aldeia que promovem atividades culturais de turismo e, consequentemente, ajudam o povo a manter sua identidade. Ele conta que a modernidade também chegou aos indígena que agora aceitam pix. “Infelizmente tem que entrar nisso, porque virou uma onda, se não ficarmos desatualizados”, destaca.

Iara Rezende visitou a Feira pela primeira vez e aproveitou para enfeitar os braços com o grafismo. Ela conta que achou interessante escutar e aprender os significados da pintura para os indígenas. “Esta é uma forma de partilhar os saberes ancestrais que os povos originários preservam até hoje”. 

Vera Lúcia, frequentadora assídua do Museu, veio ao evento na quinta e sexta e aproveitou para adquirir mais colares e cestas. “A gente precisa ter momentos de interações como estas para que a cultura indígena não se perca. O artesanato indígena é muito rico, belo, minucioso e muito trabalhoso; merece destaque”, avalia.

Vera Lúcia durante visita a Feira de artesanatos indígenas no Museu. Foto: Anna Giullia Nunes Magro/Acervo MHNMT

SERVIÇO:

10º Encontro Indígena é realizado pelo Instituto Ecoss, Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer, com apoio do Museu de Etnologia e Arqueologia da UFMT e Univag.

O evento é gratuito e aconteceu de 18/04 a 21/04, no Museu de História Natural de Mato Grosso, localizado na Avenida Manoel José de Arruda (Beira Rio), nº 2000, bairro Jardim Europa, Cuiabá/MT. 

O Museu de História Natural de Mato Grosso, gerido desde 2006 pelo Instituto Ecossistemas e Populações Tradicionais (Instituto Ecoss), é um dos equipamentos culturais da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel).